Um texto sobre o resgate da autoestima e do controle emocional da mãe de uma criança com deficiência.

Sempre abordamos os cuidados que devemos tomar com as crianças, bem como as melhores terapias, procedimentos e até mesmo sobre as inovações da reabilitação infantil. Mas e as mães? Falar sobre estas mulheres se faz muito importante e é exatamente isso o que faremos aqui no nosso blog hoje.

O olhar sob a mãe.

Antes de mais nada é importante deixar claro que sim, o filho precisa de cuidados, mas a mãe necessita, sempre, de um tratamento especial. Uma vez que esta mãe esteja bem consigo mesma e em harmonia com o universo à sua volta, força e disposição para cuidar do seu filho que depende dela, não faltará.

É muito importante que as instituições terapêuticas tenham este olhar atencioso, este cuidado de enxergar a mãe e de saber fazer uma leitura por trás daquele rosto sem maquiagem, daquele cabelo sempre preso e daquele olhar fundo e vazio. Tanto o terapeuta quanto os demais colaboradores, precisam ver naquela mãe sentada na recepção aguardando o seu filho, a mulher incrível que ela é. Mas é muito importante também que as mães voltem a se verem como grandes mulheres que sempre foram.

Saindo do casulo

Cuidar de uma criança com deficiência requer muitos cuidados e atenção. Cuidados estes que a mãe aprende a cada dia. Se hoje ela anda arcada para locomover o filho em uma cadeira de rodas e, se amanhã ele passar para o andador, por exemplo, será uma nova etapa, um novo cuidado, um novo aprendizado. E de repente esta mãe se dá conta de que ela nunca aprende de fato a como cuidar do seu filho e, com isso, ela se fecha a cada dia em um casulo.

É importante que as mães busquem pontos de fugas e auxílio familiar, para saírem do casulo e se transformarem em lindas borboletas.

Perda da Identidade

Algo muito comum nas clínicas de reabilitação é a percepção do quanto estas mães perdem a sua identidade. Quando uma recepcionista, por exemplo, pergunta a mãe quem ela é, a resposta em sua grande maioria e quase em sua totalidade é: “Sou a mãe de XYZ”.

E é exatamente isso o que acontece! De Maria, Marta, Joana, Silvia… Ela se reduz a ser a mãe de XYZ.

É indispensável que estas mães façam um resgate da sua autoestima.

“Certa vez, passando pela recepção da clínica, ouvi uma mãe dizer: “Nossa, mas XYZ gravou disco novo? Eu nem sabia mais que ele cantava! Minha vida é ouvir Galinha Pintadinha e Mundo Bita.” – Relata Rafael Bagne (Relações Públicas e Marketing da Pediatherapies).

É importante que a família contribuía para com os cuidados da criança, mas é importante também que a mãe se desperte e compreenda que o filho precisa sim dos seus cuidados, mas que ela também precisa se amar e se cuidar.

Psicológico

É evidente que a perda da autoestima desta mãe afeta diretamente o seu psicológico, fazendo a enxergar um mundo mais sombrio, sem vida e sem perspectiva. Esta mãe passa a viver em função do filho em período integral.

Não é raro encontrarmos também a alienação paternal, ou seja, todo a carga dos cuidados para com esta criança fica com a mãe, enquanto que o pai:

1) Não é presente por questões XYZ;

2) Não é presente, mesmo estando no ceio familiar.

Esta sobrecarga física e emocional vai guiando a mãe para um emaranhado de conflitos internos e, inclusive, ao sentimento de fracasso.

Isolamento Inicial

É muito comum, logo no nascimento, a mãe querer se isolar do resto do mundo. Isso se dá por inúmeros fatores: medo do preconceito, medo da criança ficar doente, medo do que as pessoas irão dizer, medo de não ser uma boa mãe aos olhos de outras pessoas e medos, medos e mais medos, somados a inúmeros receios e muitas dúvidas.

Na medida que o tempo vai passando, como já citado anteriormente, novos aprendizados vão surgindo e voltamos para o ponto do casulo onde temos uma mãe linda e que em outrora transbordava energia, hoje vive presa no seu casulo camuflada na vida e nas necessidades do seu filho.

Saindo do Casulo

Se você é mãe, está lendo este texto e chegou até aqui; certamente se identificou com pelo menos algum destes inúmeros pontos levantados e, certamente deve estar se perguntando: o que devo fazer?

A verdade é que você já possui esta resposta, porém está fraca demais para dar o primeiro passo. Mas é preciso.

Permita-se

Se permitir é a palavra chave.

Permita-se a olhar para a mãe que está ao seu lado e dar um bom dia;

Permita-se a deixar que o momento da terapia seja um momento do seu filho, e não o seu;

Permita-se a sorrir mais;

Permita-se a ter um hobbie. Aprenda uma atividade manual e a exerça enquanto aguarda a terapia do seu filho ou quando ele estiver na escola, se for esta a realidade da sua família.

Permita-se a ouvir uma música do seu gosto.

É preciso se permitir e encontrar meios para isso.

O momento que você conseguirá e terá para se permitir, só você é quem sabe.

Entenda que você não é a única que está neste barco. Mais da metade daquelas mães que estão com você na recepção passam pelas mesmas dores, angústias, isolamento e baixa autoestima. Conversem. Se olhem. Criem vínculos.

Benefícios

A partir do momento que você se permitir, você voltará a se enxergar com uma mulher.

Adquirir a percepção de que você precisa levar o seu filho para a terapia, mas que antes precisa pentear o seu cabelo, vestir uma roupa que lhe dê autoconfiança, passar uma maquiagem para que você se sinta bonita e poderosa, fará tão bem a você que com certeza, uma energia totalmente nova invadirá a sua alma, logo, o seu filho também receberá esta onda de luz.

Pensemos no seguinte cenário onde a mãe se entregou e jogou a toalha no chão: acha mesmo que a terapia do seu filho surtirá efeitos em casa quando a única energia que você está mandando à criança é a energia da desilusão, do cansaço, da falta de amor próprio e do descompromisso para consigo mesma? Como emitir amor, se o mesmo lhe falta para si própria?

Reencontrar a mulher que sempre viveu em seu interior não é uma tarefa fácil, mas é altamente possível.